Há poucos dias, aos 80 anos, em plena pandemia, aprendi o significado de duas novas palavras: Ubuntu e Cringe. Descobri também que agora é optativo colocar a data de nascimento nos dados pessoais. Assim, no futuro, quem ler a minha ou a tua biografia não saberá logo a nossa idade. Em tempo: favor deletar "aos 80 anos" escrito acima. Ao invés de saber, desde logo, que sou um octogenário, quem ora me lê e me desconhece, para identificar a minha idade, só adivinhando... Diferente, não é?
Depois desses prolegômenos, como diria o recordado amigo e cronista José Bicca Larré, ao seu jeito e no seu tempo, vamos ao Ubuntu e ao Cringe. A jornalista Deborá Evangelista mantém, na tevê, um programa cujo título é Viva Ubuntu. Ao ouvir algo, que não me era familiar, busquei saber um pouco mais da sua origem e história. Descobri, então, que Ubuntu é um termo associado à fraternidade e à solidariedade, uma palavra derivada do idioma Quinbundo da matriz cultural bantu, base da chamada cultura negro-africana. Ubuntu não tem uma tradução muito exata para o português. A filosofia da palavra revela a idéia de harmonia entre o eu e o outro, fundamento da existência humana. A visão de Ubuntu engloba todos os seres do mundo, daí a sua oposição à visão individualista que predomina no mundo ocidental. Outro aspecto importante ao falar sobre Ubuntu é o meio ambiente, visto como um ponto fundamental para o bem-estar e o equilíbrio desejado por toda a humanidade. Intelectuais como o português Boaventura de Souza Santos, o francês Edgar Morin, o brasileiro Leonardo Boff, em sintonia com o Papa Francisco, propõem um novo paradigma na relação homem/mundo. Vale ressaltar que a luta ambiental é hoje uma questão vital para a existência humana.
Cringe é o outro termo que me despertou atenção. É usado atualmente para demarcar a geração "mais velha" pela geração Z, nascida de 1995 para cá. A construção de rótulos de uma geração sobre as demais é algo milenar. O termo Cringe, em inglês, tem sido aplicado pelos adolescentes atuais aos maiores de 25 anos (os millennials ou geração Y)
Assim, meus caros leitores, entende-se o quanto significam as duas palavras nos dias atuais. É instigante, por isso, frequentar e observar o mundo das palavras. Elas são pontes entre os homens e o universo. Elas nos levam aos corações e às mentes humanas. Entender a convivência, as relações do eu com o outro, é desafiador. Ubuntu tem a ver com isso, assim como Cringe nos conduz a compreender melhor o (des)encontro de gerações.